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OPINIÃO: Lógica do mandatário narcisista

Mandatário é aquele que recebe mandato, autorização ou procuração para agir em nome de outro(s). Enquadram-se neste conceito advogados, políticos eleitos, chefes e chefetes de todos os matizes.

O mandatário, portanto, não é alguém que deve agir contra os interesses daquele que lhe outorgou o mandato. No exercício da representação, deve pautar-se como se fosse o mandante e jamais colocar-se na posição de curador, ou seja, alguém incumbido de cuidar de interesses e bens dos impossibilitados de fazê-lo, como órfãos menores, doentes mentais, toxicômanos.

Às vésperas de eleições, é possível identificar alguns candidatos a mandatários que buscam eleger-se para cuidar do povo e não para representá-lo. Apresentam-se pedindo voto de confiança para que o povo lhe outorgue mandato em branco, isto é, dando-lhes poderes para decidir depois o que farão, sem qualquer compromisso de coerência com propostas, geralmente inexistentes.

Em regra estes "messias" são dotados de alta dose de narcisismo doentio, julgam-se em condições de resolver os problemas presumindo que são capazes disto por simples manifestação de vontade.

Aí reside o perigo, pois quem se arroga a salvar todos, antes convence a si mesmo de que é capaz e, por isso, merece todas as vantagens, mesmo ilícitas, afinal ele é o salvador e, portanto, é justo ser autoindulgente e merecer a compreensão de todos. Nasce aí um viés de corrupção justificada. Afinal, quem tem o direito de exigir de alguém que se doa por todos que não lambuze os dedos numa vantagem aqui e outra ali? Como não compreender que estas vantagens (ilícitas) são merecidas? O pior é que os amigos o compreendem.

O narcisismo deste tipo de político chega ao ponto de presumir-se acima do bem e do mal, merecedor de uma admiração agradecida pelo reconhecimento de que é um quase (ou totalmente) mártir na missão de salvar o povo.

É capaz de mentir para si mesmo e fazer crer a todos que ele realmente é o mais autêntico dos seres humanos. Refiro os políticos, porque são os exemplos mais visíveis e, também, porque estamos às vésperas de eleição, quando é mais fácil constatar a facilidade como alguns candidatos são autoindulgentes com as falhas que lhes são apontadas, mas não esqueço que igualmente líderes religiosos, dirigentes esportivos e, inclusive, alguns que se apresentam como praticantes de benemerência e filantropia, padecem do mesmo mal.

O fato de haver tantos mandatários (ou candidatos) que ostentam este viés narcisista patológico não é por si só surpreendente. O que realmente surpreende é o fato de que parte da elite intelectual deixa de lado o espírito crítico e se deixa cooptar por este tipo de liderança. Os meios de comunicação de massa, que há bastante tempo deixaram de ser jornalísticos para se tornarem empresariais (na busca da audiência que lhe trará lucros), deixam de exercer sua função esclarecedora e com facilidade aderem a um destes líderes em desfavor do outro, mas é uma falsa escolha, porque é feita dentre aqueles de mesmo perfil narcísico, que ao chegar ao poder trará consigo a incógnita do dia seguinte.

A lógica de qualquer mandatário narcisista é o "deixa comigo, que eu resolvo". Todos sabem (?) que não é assim. Mas paradoxalmente é assim que tem sido e, ao que tudo indica, será novamente.

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